Enquanto pelas ruas se canta o “Grândola” recordo a música da minha vida. “Tinha uma sala mal iluminada” era a segunda faixa do meu disco preferido. Ainda o meu pai não me deixava pousar a agulha na superfície preta e eu pedia sempre o mesmo disco, todos os dias: capa branca, com o Alentejo amarelo torrado em fundo e um homem numa asa delta a planar. Soube, mais tarde, ler as letras verdes, o disco do Zeca Afonso lançado no ano em que nasci chamava-se: “Enquanto há força”.Na segunda faixa do meu disco preferido, a minha atenção prendia-se sempre naquela frase: “… sê constante”.
– Mãe, o que é ser constante?
Terá sido essa a primeira pergunta existencial da minha vida. E é essa a resposta.
O que faz falta é ser constante.
Na vida, nas relações e na forma como se governa um país.
No sábado enquanto descia a Avenida da Liberdade olhava para a quantidade (e não, não discutirei números) de gente com idade para serem meus pais, meus avós. Não entendo nem tolero que se troquem as voltas a quem trabalhou toda uma vida. Não entendo nem tolero que se cortem em pensões e reformas. Um país que não é constante para aqueles que trabalham não faz sentido.
Existem conceitos que fazem parte de um projeto em construção: o Estado social, saúde gratuita, escola pública. As mudanças são inevitáveis, os ciclos económicos são uma realidade mas o projeto, a base, aquilo com que contamos, tem que ser constante.
E se quiserem também escrevo para aqueles que acreditam apenas no capital: investidor nenhum quer um país em que as regras, os impostos, as burocracias, mudam todos os dias. Até os homens do dinheiro, esses que trazem o D. Sebastião em forma de investimentos produtivos, querem um país constante.
Se não a vida é como adormecer com um homem que diz amo-te mas que ao despertar quer o divórcio. Sim, existe, mas não faz sentido. É uma angustia que nos consome, que nos torna tristes, sem capacidade de fazer mais nada.
Um povo, sem nada constante, é isso: triste e improdutivo. Cada vez mais pobre.
“A velha história ainda mal começa
Agora esta voltando ao que era dantes
Mas se há um camarada à tua espera
Não faltes ao encontro sê constante”
Gosto tanto de vir aqui…sabemos sempre que há palavras sobre relações, sejam elas de índole pessoal ou "falas" sobre a nossa participação como cidadãos…Boa semana e obrigada!
E tu és constante, percebe-se pela tua escrita! Este blog é constante e consistente. ADORO! E este post deixou-me de lágrimas a deslizar pelas faces. Muito bem escrito e muito verdadeiro
este post deixou me de lagrimas nos olhos…lindo…