Quando sou turista numa cidade qualquer nunca ando de transportes (ou raramente, apenas quando as condições atmosféricas não permitem andar a pé). As distâncias interessam muito pouco, desde que sejam visíveis no mapa que levo. Caminhar permite-nos fazer
exercício e poupar dinheiro, mas não é disso que hoje falo. Andar a pé
permite-nos observar uma cidade, senti-la, conhecê-la, ainda que de
forma superficial porque não conhecemos ninguém apenas por olhar para
uma pessoa.
Ontem, decidi que não ia apanhar o comboio, nem um
táxi, nem pedir boleia a uma amiga. Sabia que estava à distância de uma
meia maratona de casa e andei.
Eram 8h e a marginal estava cheia
de gente. Não sei quanto recebem de salário, se têm rendas em atraso ou
contam os cêntimos para pagar a casa ao Banco, não sei nada sobre a vida
das pessoas com quem me cruzei, mas sei que estava sol e as pessoas
estavam sorridentes. Corriam, andavam de bicicleta, caminhavam, ouviam
música, conversavam, sozinhas, aos pares, em grupo, com e sem filhos, de
todas as idades.
Chegando a Lisboa, depois daquele enorme
edifício que nos faz acreditar nas coisas boas que por cá se fazem
(Fundação Champalimaud), encontrei uma das mais visitadas capitais da
Europa. Os turistas, muitos e muitos turistas, deslocavam-se de forma
ruidosa rendidos ao sol e ao rio, a observarem os nossos monumentos e a
ouvir pedaços da história do nosso país. Talvez ouçam apenas os momentos
gloriosos, talvez nunca saibam os momentos difíceis, mas naquele
instante nem eu me lembrei das coisas más.
Subi até ao Jardim da
Estrela – a Feira de Artesanato voltou – e era difícil encontrar um
espaço livre entre as bancas cheias de objetos lindíssimos. Os miúdos a
jogar futebol, os piqueniques, famílias cheias de filhos e os velhotes
que ocupam os bancos do jardim para apanhar sol e conversar sobre a
vida. É verdade, não sei quanto ganham de reforma, não sei quanto gastam
na farmácia mas, naquela manhã de domingo, eram apenas velhotes felizes
entre conversas e jogos de sueca.
A meia maratona estava feita
mas, apetecia-me continuar a ver a minha cidade com o filtro do sol de
domingo que torna tudo mais bonito. Sou radicalmente contra ter que
pagar para ver a cidade – não entrei no Castelo de São Jorge, mas a fila
para comprar bilhetes era enorme.
E não sei se os restaurante
por onde passei conseguem pagar o IVA, mas estavam cheios, mesmo cheios,
com esplanadas e muito gente à espera. Os cafés não tinham mesas livres
e as lojas de souvenirs fechavam e abriam a maquina registadora. Eu
comprei um postal de Santo António e bebi um cálice de vinho do Porto.
Talvez
fosse o sol, talvez fosse esta cidade que é bonita demais,
independentemente de todos os problemas, talvez fosse o mar, talvez
fosse o rio, talvez se chame economia positiva – e eu sei que há tanto
por fazer neste país onde vivo – mas, se tivesse que descrever pessoas
felizes foram todas aqueles que vi ontem, num domingo perfeito.
Que texto tão bom 🙂 concordo com tudo aquilo que dizes, não sei se algum dia terei feito tantos quilómetros seguidos, mas sei que já fiz MUITOS e MUITOS. Adoro explorar a minha cidade a pé, é um plano mesmo perfeito para um Domingo * (Ainda há duas semanas o fiz e fui até ao Castelo 🙂 como tenho a morada em lisboa não pago!)*
Pode ser por estar a viver em Paris há já quatro anos, mas sempre que vou a Portugal, mal vejo Lisboa…vem um sorriso tão grande e quente. Quando ano em Lisboa, ando a pé também, sempre, respiro a minha cidade que já é de tanta gente. Adoro a minha Lisboa e este post fez-me sorrir. Como se tivesse estado nesse domingo perfeito na cidade perfeita.
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Que texto bonito :).
Também gosto muito de conhecer os sítios a pé, até mesmo os que conheço eu percorro a caminhar, muitas vezes como se fosse a primeira vez
Que giro, decidires dar um giro e o fotógrafo e as amigas estarem lá…
Eu fui passear com amigas, sim. O fotógrafo é amigo e estava no jardim, sim.
Os moradores em Lisboa não pagam entrada no Castelo. Um beijinho e obrigada pelo blog