provo-te um livro sobre amor

Já não gosto do Nuno. Se já não gosto do Nuno porque é que vivemos juntos? Porque eu ainda gosto do Nuno mas já não gosto o suficiente para dar beijos com a língua. A última vez que fizemos amor foi na passagem de ano. Mas é normal, não é? As coisas mudam. Ninguém aguenta fazer amor todos os dias, para sempre, pois não?

Já não gosto do Nuno, mas gosto de sentir a cama quente, gosto que me ajude a trazer os sacos das compras, gosto que saiba a data da revisão do carro, gosto – não gosto, adoro –, que cozinhe para mim. Eu gosto do Nuno mas não o suficiente para lhe dar beijos na boca com língua. Quase nem o suficiente para lhe dar beijos na boca. Mas faço o esforço. Ele queixa-se. Já se queixou mais, principalmente quando passou o primeiro mês sem que o deixasse tocar-me. Depois esperou dois meses para voltar a queixar-se. Depois quatro. Agora desistiu. Ou, acreditando nas suas capacidades matemáticas, ainda não passaram oito meses desde a última vez. Só se tem queixado dos beijos. Diz que me viro para que me beije apenas na cara quando chega a casa. Eu sei que ainda gosto do Nuno o suficiente para me ir ter com ele à porta quando chega a casa.
Estamos juntos há quinze anos. É normal, não é? As pessoas que estão juntas há quinze anos não fazem amor todos os dias, pois não?


(…)

Nos primeiras anos de namoro fazíamos amor todos os dias, disso tenho a certeza. Lembro-me do Nuno chegar dos treinos já tarde e de lhe pedir que fizesse amor antes de ir tomar banho, antes sequer de tirar a roupa. Tinha vontade do cheiro, do corpo, da boca, da língua. Sempre. Tinha vontade que me visse nua e que me tocasse. Tinha vontade de ficar a vê-lo naquele instante em que, antes de se vir, no momento perfeito para todas as declarações eternas de amor, fechava os olhos:
– Amo-te. Fica comigo para sempre.





Foi esta a história que o Ricardo escolheu para ler ontem
Este é o início de uma história-de-amor. Provo-te, quantas vezes posso morrer de amor? 

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