Descobri o problema na Expo 92, em Sevilha, quando dei por mim exausta dos sacos que carregava há horas com papéis e mais papéis, brochuras e mais brochuras e umas quantas canetas. Não importava a utilidade de cada objeto, na verdade nem interessava que objetos eram. Eram de borla.
Entrei muitas vezes numa agência de viagens, à porta de minha casa, para trazer um número absurdo de catálogos de férias. Sempre parei nos supermercados quando existiam degustações. Fiz fila para ir buscar bonés e outros brindes variados em todas as feiras e ocasiões festivas. E, em muitos eventos com coffee break, cheguei a encher os bolsos com miniaturas de pastéis de nata. Sendo comida, não podemos duvidar da sua utilidade, mas isso não retira o exagero nem o ridículo da situação, nem sequer justifica as nódoas que deixei em muito casacos.
Ao longo da vida fui melhorando. Vivo numa casa muito pequena e o espaço para acumulação é nulo. Por outro lado, fui ganhando consciência da figura que fazemos quando queremos trazer o máximo possível de alguma coisa, apenas porque é grátis.
Vamos a festivais de música e perdemos mais tempo a caçar ofertas do que a ouvir música. Ouvimos a palavra oferta e tentamos agarrar o máximo de coisas que conseguimos. É dado, não é roubado, como as centenas de peças de roupa, calçado e material de desporto que foram levadas do principal armazém localizado no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, no final do jogo entre o Vitória de Guimarães ao Benfica.
Mesmo assim, quando agarramos aquilo que é grátis de forma sôfrega e desesperada deixa de parecer apenas parvoíce para parecer uma pilhagem. Não gosto.