eu, mãe

às vezes os miúdos ficam doentes – as coisas normais: gripes, febres e viroses, nessas alturas eu lembro-me da ansiedade de ser mãe. aquela sensação que nos aperta o peito e dificulta a respiração. às vezes é preciso mandar o mais velho estudar [não é “às vezes”, é “muitas vezes”] e nesses momentos posiciono-me no lugar da “mãe muito chata”. eu não gosto de ser a “mãe muito chata” mas não me importo de ser a “mãe muito chata”, faz parte e eu sei [e agradeço porque o G. consegue verbalizar isso] que o meu filho me agradece por isso.

quando não há doenças, nem aqueles instante de tensão adolescente vs mãe, há tranquilidade. na verdade quase sempre os nossos momentos são muito tranquilos. os meus miúdos gostam de jogar e ver vídeos no youtube. outras vezes – muito menos vezes, gostam de ler, o G. gosta de ouvir música, o A. gosta de plasticina. eu acho que o pouco tempo que passamos em casa durante a semana já é naturalmente limitador ao tempo que passam a olhar para um écran. desde que os trabalhos de casa estejam feitos e não existam protesto quando mando estudar, não não problema com jogos e computadores. o A. gosta de estar sentado ao lado do G. enquanto ele joga, o G. tem paciência e explica-lhe as coisas. as portas estão sempre abertas- herdei da minha mãe esta regra: estão proibidas as portas fechadas. é uma coisa natural, e ouço as conversas do G. com os amigos enquanto jogam em conjunto. o A. vai-se metendo na conversa. é tranquilo.

na verdade quase sempre os nossos momentos são muito tranquilos. eu não sou nada ansiosa com refeições. quando chegam a casa podem comer o que quiserem desde que comam fruta primeiro. vamos comendo à medida da fome. às vezes o G. pede o jantar às 18h e pede para repetir às 20h. às vezes o A. não quer jantar comida e pede mais fruta, uns cereais e pão com manteiga. herdei da casa onde cresci esta quase fobia ao jantar sentado à mesa. era o pior momento do nosso dia. existia sempre uma tensão quando nos sentávamos os três à mesa. eu detestava. na minha primeira casa nem sequer existia mesa para fazer as refeições. essa parte ja ultrapassei mas mantive a tranquilidade dos tabuleiros.

durante a semana tento que as luzes estejam apagadas e tudo deitado às 21h30. às 21h vamos lavar os dentes e fazer as medicações de rotina [para o G. que tem asma]. ficam na cama a acabar de ver os vídeos e eu vou pedindo que apaguem. é um processo que leva o seu tempo mas nunca peço mais de três vezes. deito-me sempre ao lado do A. para que adormeça. às vezes demora 1 minutos, às vezes demora meia hora. vou dizendo ao meu filho adolescente que o amo [está na cama de cima do beliche] e vou chamando coisas foleiras e amorosas ao meu filho pequenino. às vezes adormeço também mas, desde que vivo com o Pedro, que me levanto sempre para ir para a nossa cama.

ao fim de semana acordamos mais ou menos às 9h, se eu pedir eles deixam-me dormir mais um bocadinho. o G. orienta os pequenos almoços se for preciso. eu balbucio de olhos fechados: calcem os chinelos! muitos fins de semana não sou mãe. sabem-me bem esses momentos, gosto de ir treinar, gosto de ir ao cinema, gosto de ir com o Pedro à praia. gosto de não pensar em nada. não tenho saudades dos miúdos mas gosto mais das manhãs de sábado em que os ouço em casa e fico deitada mais um bocadinho.

quase sempre os nossos momentos são muito tranquilos. não foi sempre assim. o meu filho pequeno mudou-me. a idade também. eu, mãe, tenho a tranquilidade que desejo para tudo o resto na minha vida. e agradeço aos meus filhos por isso.

4 comentários em “eu, mãe”

  1. Estou com a Ana.
    Aparre disso o texto está soberbo. Tu acabas comigo com essas palavras ditas de coração a coração.
    Não quero ser a mãe chata! ( tenho medo disso)
    Também herdei isso das portas e regras para comer é igual , com a diferença que quando estamos à mesa sempre foi e é uma galhofa pegada.
    O que admiro mais nesta casa é vo sentido de humor que todos temos até nos dias difíceis, tudo é mais leve a brincar e a ironizar. Nem sempre a vida se leva a sério.

    Parabéns texto lindo, maravilhosa mãe-adolescente .
    Carolina Melo

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