[27 ou Abril]

voltaram as memórias. não são fantasmas assustados às voltas no quarto. abri a gaveta e continuam todos sossegados. mas cheira à sala 27 com os estores escravados e a enorme mesa de madeira escura. e cheira aos livros e aos jornais. e cheira à barba do meu pai. consigo ouvir todos os sons. reconheço todas as palavras. e depois, Paulinha, sinto o cheiro do teu pai e consigo ver a casa de banho que parecia uma sala na casa que tremia quando andávamos. o cheiro quente daquele pavilhão enorme, sabes? voltaram as memórias. tu entendes. cheira a bifes com cogumelos comidos de madrugada na Rua das Flores. os fantasmas estão sossegados mas a gaveta está aberta e não sei se respiro ou se paro de respirar. consigo ouvir as palavras. são as mesmas, tu sabes. e cheira a papel acabado de imprimir e tem música de carros de som. tenho saudades tua Paulinha porque entendes a gaveta aberta e sabes as dores que sinto. 

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *