[xiu… post desfasado no tempo para ter menos impacto.]

já o V. me dizia que eu curava todos os vazios com euforias. já o V. me explicava que aquele filho que trazia dentro de mim era a solução para o luto que nunca saberia fazer dessa forma, com lágrimas e tristeza infinita. já o V. me descrevia que a protecção exagerada do meu pai me tinha impedido de aprender a lidar com as frustações e os vazios da vida. às vezes, quando a euforia acalma, quando não existe nenhum centímetro de chão para limpar, nenhum objecto para arrumar, rigorosamente nada para fazer, quando sou obrigada a parar, sinto as gavetas abertas a bater contra as paredes, sinto a desarrumação, sinto os fantasmas todos a zangarem-se uns com os outros, depois comigo. grito-lhes para estarem calados, arranjo força e tento que voltem para as suas gavetas, tento esticá-los, dobrá-los e sossegá-los. imaginem fantasmas de pano, daqueles aparentemente inofensivos. são assim os meus fantasmas. ponha música mais alto, levanto-me para fazer qualquer coisa que existirá certamente para fazer, e se não existir invento, mas a agitação resolverá aquilo que ainda não consegui arrumar.

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