Discordo totalmente de quem diz que
as redes sociais matam as relações reais entre as pessoas. As redes
sociais, no convívio entre as pessoas, são um suporte, como a carta, o
telefone fixo e depois os telemóveis. A diferença estará na rapidez e na
intensidade dos contactos, nada mais.
Intensidade é exatamente o
adjetivo que me ocorre para descrever esta estranha forma de cidadania
que as redes sociais trouxeram. Os problemas do nosso mundo passaram a
ser apenas aqueles que a timeline do Facebook nos apresenta, como se
oferecêssemos a Mark Zuckerberg a capacidade de decisão sobre quais são
as questões com que nos devemos preocupar.
Não querendo retirar o
devido valor e poder às redes sociais, mesmo em termos de cidadania,
mobilização e informação, impressiona-me a histeria que se pode provocar
através da partilha, ou se preferirem do share, comparativamente à
passividade das pessoas na vida real.
Sou incapaz de imaginar o
sofrimento dos pais que perdem filhos, mas seria a primeira mãe a
recorrer ao Facebook, ou a qualquer outra plataforma, para chegar ao
maior número de pessoas possível para salvar um filho.
Quando um
apelo viral no Facebook leva centenas ou milhares de pessoas a dar
sangue, ou a inscreverem-se como dadores de medula, tudo faz sentido.
Falo
agora do caso concreto da Margarida, que nasceu prematura no Dubai e
ficou sujeita a um sistema de saúde privado e caro (como todos os
sistemas privados de saúde). Não questiono, nem por um segundo, o apelo
desesperado dos pais. Muito menos questiono a decisão de ajudar. Nem
entrarei aqui na questão de que contas fazem os portugueses quando
emigram, porque não basta pensar no salário que vamos receber.
Aquilo
que não entendo é o movimento sentido em relação a um bebé prematuro
que nasce noutro país, quando comparado com a passividade das pessoas
perante as dezenas de bebés prematuros que nascem todos os dias, alguns
demasiado longe de suas casas.
Há uns meses conheci a história de
um bebé prematuro, hoje um menino lindo, que nasceu no Alentejo
profundo. Para poder acompanhar a sua vida minúscula, esta mãe fazia
todos os dias centenas de quilómetros. Não me lembro de existir um
movimento para pagar o combustível desta família. Se calhar, esta mãe
esqueceu-se de pedir no Facebook.
Também gostaria que todas estas
pessoas que choraram a morte da pequena Margarida se lembrassem desse
imenso privilégio que o 25 de Abril nos deu. Chama-se Sistema Nacional
de Saúde e cuida de bebés prematuros, que custam milhares de euros por
dia. E já agora, revoltem-se da mesma forma, partilhem no Facebook e
saiam à rua com a mesma, é essa a palavra, intensidade, quando querem
matar o Sistema Nacional de Saúde.
Parabéns pela coragem de escrever isto! Concordo a 100%!
Clap. Clap. Clap!
Sem tirar nem pôr! É isto mesmo!
xanaesousa.blogspt.com
100% de acordo com tudo o que dizes aqui
É isso mesmo Catarina.
Muito obrigada pela lembrança e por dizer aquilo que eu pensava mas não sabia como por em palavras!
Subescrevo na íntegra! Excelente reflexão!
Beijo,
Ana
Este post sim,deveria de ser divulgado no Facebook.
Subscrevo totalmente.
Se pensarmos que no baixo alentejo apenas existe a maternidade do hospital de beja que serve todo o distrito, não nos espantaríamos com o quão frequente acorre esta situação dentro das fronteiras do nosso pais.
Gostei imenso, Catarina! Muito bem dito!
Alcance, é a resposta a isso tudo. As pessoas são, no geral, sensíveis a casos de sofrimento e necessidade. Mas para o serem, para ajudarem e para partilharem, precisam de se sentir parte de uma história. O caso da pequena Margarida foi isso mesmo: a página no Facebook não serviu somente para angariar fundos, mas para fazer das centenas de milhares de pessoas serem parte ativa da história, acompanhando quase que em direto a evolução da pequena, podendo comentar e discutir.
O caso de todos os bebés prematuros que falas e do pequeno que conheceste, não tem isso. Não é problema da cidadania ou da pessoas: é a característica primária das redes sociais.
Excelente texto, um abraço!
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por acaso chama-se Serviço Nacional de Saúde