era inverno e frio. o frio que só o Alentejo tem. talvez seja desde esse dia que sou fascinada por tabique. a casa era enorme e quando os adultos andavam na sala, o quarto estremecia. eu não conseguia dormir e pensava porque raio tinha que ser amiga da grande amiga da minha mãe. tínhamos seis anos e mal sabíamos escrever. quis a vida, fica mais poético mas, na verdade, quiseram as nossas mães, que praticássemos a escrita nas cartas que voavam entre Almada e Portalegre, com selos plastificados. quis a vida, quisémos nós, que as cartas nos tornassem amigas para a vida. adolescentes convencidas e meninas mimadas dos seus pais. quis a vida, e o Partido, que nos reencontrássemos na Festa que será sempre nossa. quis a vida que me apaixonasse perdidamente em Portalegre. quis a vida que te apaixonasses perdidamente em Almada. quis o cabrão do cancro levar os homens das nossas vidas. quis a vida dar-nos dois rapazes como filhos. e mesmo que perto seja, às vezes, mais longe do que os quilómetros que nos separaram e juntaram durante tantas anos, quero que saibas que és parte fundamental de mim.
parabéns. que sejamos sempre adolescentes.