[até ao próximo Verão…]

É um conceito bastante monárquico mas bastante apetecível: eu queria ter uma casa de Verão e uma casa de Inverno. Seria assim uma espécie de migração sazonal.
Ao contrário de muitas pessoas que gostam da cidade em Agosto, quando fica mais vazia e sossegada, eu não gosto de viver em Lisboa em dias de calor.
A capital é mais bonita quando todas as lojas estão abertas, quando as pessoas enchem as ruas para chegar aos empregos e os miúdos saem das escolas com mochilas carregadas. Gosto das rotinas do frio: vestir o casaco, tomar o brunch ao domingo, fazer piqueniques com mantas quentes. Gosto dos cafés com cheiro a coisas quentes e a bolos dos nossos, daqueles que não se vendem em mais lugar nenhum. Nos dias em que faz frios, nos dias em que chove, até gosto de ir ao hipermercado e passear-me nos corredores do consumismo. A luz de Lisboa é linda, mesmo em dias de chuva. E as ruas ficam limpas.
Quando chove, agradeço a minha varanda pequenina, a sala aconchegada e a minha cama minúscula.
Chamem-me doida, mas não gosto de usar sandálias nas ruas da cidade. E no Verão gosto de andar descalça e preocupar-me (ainda) menos com o que visto.
Num mundo perfeito, algures durante o mês de Junho, mudava-me para a casa de Verão. Não era preciso fazer malas porque na casa de Verão estaria tudo o que era necessário para três meses: a roupa, os utensílios e os livros. Teria até as fraldas do tamanho que o bebé usasse nessa altura, mas isso já é pedir demais. A casa de Verão tem que ser grande e arejada, tem que ter um quintal e uma enorme porta para a rua. Pode ser ao pé da praia, do rio ou de outra paisagem qualquer que permita esquecer a cidade e respirar melhor. Tem que ser ao pé do mercado, ou da mercearia, porque no Verão sabe bem ir às compras, sem pressa, todos os dias, escolher as cores mais vibrantes e o peixe mais fresco para cada refeição. Dias compridos, pés descalços, gargalhadas e silêncio.
Regressaria à cidade quando já estivesse suficientemente fresco para voltar a calçar botas. Até ao Verão seguinte.

12 comentários em “[até ao próximo Verão…]”

  1. não fui eu que escrevi isto mas podia ter sido… sinto tudo isso e cada vez mais … duas casas como duas vidas diferentes definidas por estações diferentes e cada uma com a sua beleza … beijinhos princesa dos nossos dias 😉

  2. Podia ser, mas de preferência, uma bem, mas bem longe da outra, para assim poder ter uma espécie de vida dupla 🙂 Tudo diferente, só o amor e os filhos iguais.
    Era bom, era…

  3. Hoje vinha a conduzir e pensar exactamente neste tema. Estava a pensar que os dias estão mais curtos, que escurece mais cedo e que eu não gosto nada…gosto de chegar a casa depois do trabalho ainda com óculos de sol. Por outro lado também gosto dos dias frios, do chá quente, do bolo acabado de fazer no forno, de estar na cama e a ouvir a chuva lá fora… e por aí. Queremos sempre o Verão, mas o Inverno tem a sua beleza também.

  4. Com o Agosto a terminar tb eu sinto o aproximar, ou serão saudades, do inverno, mas depois se estou no inverno desejo o verão vá-se lá entender. Quanto a duas casas, não me importava mas poderiam ser próximas, devido ao trabalho, mas uma seria de inverno e outra de verão para assim não ter aquela trabalheira da troca da roupa dos armários entre estações que só de imaginar que não tarda começa essa azafama já fico cansada.

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