Sem título.

O caracteres produziram-se na estranha velocidade o-meu-filho-teve-que-ir-cheio de-febre para-casa. Com a angústia da impossibilidade permanente de conjugar tudo. A tua febre dói-me muito mais do que a minha dor de cabeça. E aquilo que sinto quando vejo o teu corpo pequenino a fugir da primeira injecção ultrapassa as dores que senti para te trazer cá para fora. Choraria rios de lágrimas como a Alice no País das Maravilhas para evitar uma só das tuas. Abraço-te com muita força e peço-te desculpa perante a evidência do fracasso nesta minha missão de querer proteger-te de tudo o que te faça sofrer. Ficas quietinho e no silêncio que às vezes desejo e agora não quero. Pago a consulta, os exames e a penicilina enquanto confesso à Marta – que me conhece de todas as ginásticas respiratórias, febres, faltas de ar e consultas de rotina – que, se soubesse que amar assim alguém custava tanto, nunca tinha sido mãe. Ela ri-se. E eu agarro na tua mão pequenina e lembro-me do existencialismo antes de ti e da força que me deste para procurar o resto de mim e do medo que tenho de não conseguir ser tudo.

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