que o bom jornalismo não seja apenas um filme….

A Academia de Hollywood escolheu “O Caso Spotlight” como o melhor filme de 2015. Não sou crítica de cinema nem sei avaliar a justiça do prémio mas posso dizer que adorei o filme e, confesso, chorei na cena em que as prensas imprimem o jornal.

Quando era miúda tinha imensa dificuldade em responder à pergunta: “O que queres ser quando fores grande?” Pensei que essa dúvida passasse com a idade mas, contrariamente às minhas expectativas, agravou-se: demoro muito tempo a preencher a parte dos formulários que diz “profissão”. Não foi assim enquanto trabalhei no Diário Económico. Lembro-me do orgulho imenso com que escrevia: jornalista.

Na verdade, ainda hoje, apesar de todos os empregos que já tive, apesar de todos os trabalhos que já fiz, apesar desta luta entre a necessidade de sustento e aquilo que gostamos de fazer, continuo a sentir-me “jornalista”.

Foi a saudade dessa plenitude, a memória do cheiro do jornal impresso, a forma como foi educada a respeitar o jornalismo como uma suprema de liberdade e democracia, as histórias que ouvi sobre o jornalismo em tempos de clandestinidade, que me fizeram chorar ao ver o vencedor do Óscar para Melhor Filme.

Minto, não foram apenas estas recordações: foi esta dor imensa por ver o jornalismo de qualidade a morrer, por saber que vai acabando o espaço (talvez apenas sinónimo de orçamento) para as grandes investigações e reportagens. Porque um dia casos como o Spotlight serão apenas coisa dos filmes.

 

Crónica Dinheiro Vivo

 

[partilho esta crónica como forma de dar força aos jornalistas do Diário Económico neste dia em que decidem avançar para a greve.]

 

4 comentários em “que o bom jornalismo não seja apenas um filme….”

  1. Foi de uma justeza brutal, o prémio. Não só pelo filme em si, mas porque vamos assistindo cada vez mais à decadência da comunicação social. Lemos noticias online todos os dias e é triste ver que os artigos nem por um corrector ortográfico passam. São atropelos e pontapés na gramática constantes. E os assuntos são cada vez mais cor-de-rosa ou de faca e alguidar. Enfim.

    O Pai,
    http://www.soupai.pt

  2. Joana Lourenço G.

    .+acabada de sair do curso de comunicação empresarial, fui estagiar para onde menos esperava – para um jornal. disseram-me que não havia horas de saída. não era problema. acordava às 6h, chegava a casa às 22h. não recebia nada. nunca me vou esquecer da ‘Fátima’. corrigia todas as minhas gralhas com eterna paciência.
    acabei por desistir porque precisava de ganhar dinheiro…mas nunca pensei gostar tanto de algum emprego.
    vi o filme e fiquei presa.
    mas o que me fez quase chorar quase foi ler o teu texto. bolas fui mesmo feliz naquele estágio!

    (quando fiz 13 anos e pela história pessoal que vivia, quando fosse grande queria ser editora de conteúdo e foto-jornalista de uma revista com e para mulheres reais, mas sem tretas, sem modelos de photoshop, com criticas de livros e viagens, e roupas de lojas ‘normais’, bricolage e DIY’s…acho que se chama blog a isso hoje 😉 pensando nisto e lendo de novo…Catarina acho que encontrei mais um porquê do meu apego emocional ao teu ‘espaço partilhado’ :* (meu isto é o meu lado existencialista) 😉 Um beijo. Grande!

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