viver “fora da rede”

Esta semana vi um programa de televisão sobre casais, com e sem filhos, que decidem deixar os empregos e ir viver para o meio do nada, “off the grid” ou fora da rede, como lhe chamam. O objetivo desta mudança, para além de questões de reaproximação da relação amorosa, familiar e mesmo com a natureza, é também de poupança, uma vez que ocupam terras e casas devolutas e decidem viver daquilo que a terra lhes dá. Por outro lado, em todos os casos, era referida a necessidade de abrandar, viver mais devagar.

Sinto-me em paz na minha relação amorosa e familiar mas revejo-me nos conceitos de auto-sustentabilidade e ainda mais na necessidade de tempo. Mas seria capaz de viver “fora da rede”?

Refilo muitas vezes com a pressa dos meus filhos, com a incapacidade de esperarem, com a calma que não têm. Ponho a minha cara e colocação de voz maternal, qualquer coisa do tipo “no meu tempo é que era”, e falo do tempo que o modem demorava a ligar, da viagem entre Lisboa e Castelo Branco ou das manhãs de TV Rural para ver desenhos animados. Existiu uma certa lentidão na minha infância mas nunca vivi “fora da rede”. Seria capaz?

Eu, que gosto de tempo e da teoria de uma vida sem necessidade de dinheiro, tento imaginar-me sem telefone, sem internet, a cultivar aquilo de que preciso para comer, e sinto a ansiedade e a pressa que os meus filhos deveriam sentir se, em vez de pesquisarem um vídeo no YouTube, tivessem de esperar uma semana e procurar o horário certo na TV Guia. E decidi continuar a ver o programa (não digo qual o canal para vocês não confirmarem a minha fraca densidade intelectual) e a deixar-me de teorias românticas. O mais fora se rede que consigo viver “fora da rede” é mesmo com as memórias do modem ruidoso e do telefone preto de disco.

 

Crónica Dinheiro Vivo

6 comentários em “viver “fora da rede””

  1. Eu também “passei” por lá e fiquei a ver…. também acalento a ideia de mudar-me para um pedaço de terra e sim, sou do tempo em que tudo era mais lento. No entanto, viver completamente “fora da rede” parece-me demasiado, especialmente com uma adolescente lá por casa

  2. Pingback: a Concentra fez 50 anos e eu fiquei tão feliz como o meu filho - dias de uma princesa

  3. Comer o que a terra dá e tal não, não consigo chegar a esse extremo de abenegação mas muitas famílias a certa altura mudam de vida , saiem das grandes cidades e procuram a ruralidade na esperança de mais tranquilidade, que nem sempre encontram… embora assuma que a tranquilidade do Alentejo, onde vivo, é inquestionável (a nossa vida e ambição é que por vezes estragam tudo)

  4. Catarina, deves gostar do filme Captain Fantastic! Deixa-nos a pensar em relação a esse tema…
    Depois conta, caso optes por ver!
    Filipa

  5. Meu Doce Amanhã

    Já eu via-me completamente a viver no meio do nada, a comer o que a terra dá…foi assim que cresci, e tenho tantas saudades…De ir ao quintal tirar as batatas para comer ao almoço, e matar o frango para o jantar…subir as macieiras para comer maçãs, ir à fonte buscar a água para casa…ter de andar kilometros para dar recados…ir à feira de 15 em 15 dias comprar o que a terra não dá…os cheiros das coisas…meu deus que saudades…
    No entanto, a terra não dá dinheiro, e esse faz sempre falta para determinadas necessidades básicas. Portanto, no meio do nada onde gostava de viver, precisava obrigatoriamente de internet, e que tivesse um posto de correios para continuar a enviar os meus trabalhos.
    Mas dar oportunidade à milha filha, de viver e não sobreviver….

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