o instinto não custa dinheiro

Já aqui escrevi muitas vezes sobre negócios que transformam fragilidades em necessidades de consumo. Será talvez esse o segredo do negócio, quando não vendemos produtos e serviços que satisfaçam as necessidades básicas, descobrir os medos e os desejos mais íntimos das pessoas e prometer-lhes uma solução.

Vou sendo sensível a várias áreas de negócio de acordo com a fase da minha vida – vou também tentando ser imune a essas urgências de consumo. Tentar é o verbo correto porque nem sempre consigo. Não comprei um vestido de noiva que custa nem sei quantas vezes mais que qualquer peça de roupa normal mas instalei um sistema de alarme em casa porque tem um botão de emergência: “E se eu caio quando estou sozinha com os miúdos todos?” Resisti a quase todos os apelos consumistas para grávidas hormonais mas subscrevi aquele seguro que paga a conta da luz se eu ficar sem possibilidades de a pagar.

Agora sou mãe de uma bebé com menos de dois meses e tenho sono. Sendo o meu terceiro filho sei que ter sono nesta fase é normal. Sei que nunca me calham filhos capazes de dormir a noite inteira com poucos dias de existência, aliás muito pelo contrário porque se a Maria Luísa for como os irmãos dormirá várias horas seguidas quando tiver três anos. Sei tudo isso – na teoria e na prática – mas tenho sono e isso faz com que dê por mim a ir ler uma publicidade a uma clínica que promete por os bebés a dormir.

E nesta fragilidade de ser mãe (ou pai), seja do primeiro filho, do segundo, ou do décimo, percebo que há quem prometa solução para tudo. O instinto deixa ser ser o recurso – perfeito mesmo com falhas e gratuito – e tendemos a acreditar que alguém sabe mais do que nós. Seremos melhores para os nossos filhos se alguém nos explicar como se faz.

Repito, tenho noção que o segredo de um negócio de sucesso é prometer solução para uma fragilidade, tornar-se imprescindível, mas a dica de poupança fica: o instinto não custa dinheiro.

 

Crónica Dinheiro Vivo

foto: Marta Dreamaker

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