ontem, quando partilhei a crónica do Dinheiro Vivo, alguém me dizia que ia perder seguidores. quem me lê há muito tempo sabe que nunca escondi os meus valores. antes de ser um blog isto é um diário. como um dia disse: não está aqui tudo o que sou mas tudo o que está aqui sou eu.
fica a crónica.
Tinha 14 anos e, como qualquer adolescente, considerava-me detentora da razão e da verdade absoluta. Cresci numa casa onde se ouvia música de intervenção e se lia o Avante e o Diário. O meu pai, um militante calmo, e a mãe sempre activista. Ainda assim, os dois contra o meu insistente pedido para me juntar à JCP (Juventude Comunista Portuguesa). O argumento era muito simples: a escola era o mais importante.
Naquela idade, ligeiramente irritante, em que os meus pais eram uns chatos e os meus avós uns velhos, achei que contrariá-los e juntar-me à JCP era o melhor dos dois mundos.
Quando temos 14 anos achamos que sabemos tudo, mas somos também ligeiramente parvos. Naquela tarde de setembro pensei que, se ninguém me visse a chegar à concelhia, a minha mãe não saberia que me tinha inscrito na JCP. Da mesma forma que vivi uma vida inteira a achar que tirava notas de 500 escudos ao meu pai sem que ele desse por isso (contou-me a rir, antes de morrer, que se não passasse de 1000 escudos por mês não me dizia nada), acreditei, durante alguns meses, que pertencia a uma juventude partidária em segredo.
Cheguei à JCP adolescente, com a mania que sabia tudo e os mais velhos coisa nenhuma. E foi na JCP que aprendi que os mais velhos sabem sempre mais do que eu e que, para ter certezas absolutas, tinha que estudar muito. Foi na JCP que aprendi a ouvir cada palavra que os camaradas tinham para me contar e a agradecer a luta para que vivêssemos numa democracia. Guardo, para sempre, a imagem da mão da Maria, a quem faltavam os dedos perdidos na guilhotina guardada à pressa com a PIDE a bater à porta. Foi na JCP que aprendi a argumentar cada frase e ter verdadeiras certezas antes de as tornar afirmações próprias. Foi na JCP que aprendi a não ter medo de dizer o que penso, mesmo que as minhas ideias fossem diferentes daquelas que estavam sobre a mesa. Foi na JCP que conheci pessoas brilhantes, com capacidades de trabalho e entrega únicas. E foi na JCP que consolidei as certezas da casa em que cresci: era aquele o partido em que queria votar.
Há neste partido dois problemas inegáveis: é duro para qualquer comunista eleito ter uma vida pessoal – trabalha-se muito, estuda-se muito, há muitas pessoas para ouvir e dossiers para consultar antes de afirmar seja o que for. Não há política de secretária, nem de vez em quando. Pior ainda: nenhum comunista chega a rico, não é esse o objetivo daquilo que faz (tenho que conseguir escrever este texto sem dizer “tarefa”).
Não sou militante, chamam-me “comunista emocional”, mas voto PCP com certezas absolutas de adulta. Voto PCP pelos valores, pela capacidade de trabalho e pela honestidade daqueles que o meu voto irá eleger. Com certezas tão fortes como uma adolescente irritante, mas devidamente fundamentadas. E que cada um, com as suas histórias, os seus valores, as suas certezas, zangas e esperanças, vá votar no próximo domingo.
foto deste artigo: Marta Dreamaker
Acredito que percas..mas ganhas outros; eu por exemplo. Mas conheço bem essa experiência. Mesmo na vida real. Por vias destas eleições tornou-se público o meu posicionamento político (que é o mesmo que o teu, entenda-se) mas com uma ligação maior (não falaremos em tarefas). Posso dizer-te que tenho colegas de trabalho que mudaram a sua atitude comigo. Gente que conheço há quase 10 anos e que em matéria de trabalho DUVIDO que tenham algo a apontar-me. Por isso é que há uns lutam e acreditam numa sociedade mais evoluída e outros não sabem o que é isso. No fim, que se dane! “A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos". É só isto. Bem hajas!
Eu voto igual…
Que raio de comentário o que lhe mandaram. So porque e de esquerda, so porque vota no PC? Que parvoíce!
Olá Catarina.
Leio-te à muito tempo mas nunca tinha comentado. Podes ter perdido leitores mas ganhaste uma comentadora! 😉
Não sou comunista (declaração de interesses) e achei o teu texto uma das coisas mais bonita que li em pré-campanha. Havendo quem vote com ideais, ganhará sempre a democracia.
O.
bom dia
és também uma princesa pelo que acabaste de escrever
não voto contigo, mas voto como tu votas
Eduarda maria
Quem disse isso deseja ter valores tão bons e ser tão livre como tu és. Eu gostei mesmo muito da crónica! Parabéns estão cada vez melhores!
Ou então de cabeça ainda tem 14 anos.
Beijinhos
Carolina Melo
É isto!
Belo texto… porque não temos que esconder as escolhas que fazemos, porque TODOS temos direito a escolher e a afirmar as escolhas que fazemos.
Domingo eu também voto e voto CDU, sem medos, sem vergonhas e com a certeza de um adulto de que voto em quem tanto trabalha para termos uma vida melhor e mais justa!
Não sei se irás perder seguidores ou não (sinceramente não acredito), mas pelo menos um já ganhaste 😉
Adorei ler o ontem.
E adorei ler o hoje.
Keep going!
Força camarada. Triste saber que nos dias de hoje somos vistos como um bicho papão… E quem afinal tem papado tudo são sempre os mesmos. Somos um país que afinal tem uma democracia da treta porque não podemos ser e mostrar o que somos se não somos prejudicados…já não chega o totalitarismo do dinheiro e poder?! também nos querem moldar o pensamento e ideais? Eu voto em consciência… E com respeito pela diferença de visão da construção da sociedade…apenas luto para que naquilo em que acredito seja cada vez mais o que os outros acreditam.
Seja em que partido for, o que é importante é que votem.
Não sei porque é que hás de perder seguidores.
Por acaso nunca votei no PCP mas depois de ler esta crónica gosto mais de ti (ainda). 🙂
Tens um ar honesto pá.
Ainda gosto mais de ti:)
Gostei da crónica. Gostei, principalmente, da frontalidade e da simplicidade. Ainda bem que a escreveu.
Cada dia que passa gosto mais de te ler porque cada dia que passa me revejo mais na autenticidade daquilo que partilhas. Assim se vê… a força da palavra sentida! Obrigada. (e desculpa-me a informalidade no tratamento… mas vir a esta "casa" já faz parte dos meus dias)
Para se gostar não se necessita de ter o mesmo clube, gostos, ou partido político, por isso te digo que continuo a gostar muito de ti e do que escreves.
Tb cresci com um pai comunista, mas nunca nos influenciou, pode se dizer que não acredito na política, sei que é importante para uma sociedade funcionar mas com tudo o que o mundo me tem mostrado, e principalmente Portugal sinto que não é o voto que vai mudar algo, sinto que os escolhidos já estão eleitos e não é o povo que os elegeu.
As opiniões dos outros só valem alguma coisa se não forem contra os nossos valores, todos temos de respeitar e algumas vezes excedemos essa barreira e julgamos sempre que os outros é que estão errados.
Fico muito contente pela tua atitude e continua sempre com esses valores, :)*
beijinhos.*
Catarina, nunca votei PCP, embora seja claramente mais de esquerda do que de direita. Mas o teu post mexeu comigo, pela franqueza, determinação e simplicidade. Gente de carne e osso a falar sobre política, precisa-se. E a falar sobre política e sobre afectos então, nem se fala.
Eu também voto no domingo, com toda a confiança! 🙂
És grande Catarina! Beijo Cristina