[o caderninho dos gastos]

A minha mãe contava-me que, quando o meu pai voltou da Guiné (escolhi entre os dois g’s – guerra ou Guiné – e prefiro o segundo) cedeu-lhe o emprego que tinha porque ele precisava mais de estar ocupado. 
Com apenas um ordenado durante algum tempo, e dois quartos alugados, porque antes de casar não havia misturas, a minha doce mãe começou a tomar nota de cada tostão que gastava. Este hábito, que começou há 40 anos, manteve-se para a vida e foi sempre garantia de poupança e controle de custos na casa onde cresci.
Quando a vida melhorou, quando os meus pais se tornaram nessa espécie, hoje rara, de pessoas com empregos estáveis para o resto da vida, com progressão na carreira e reformas (supostamente) garantidas , passaram a anotar apenas os grandes gastos, aqueles que saíam da rotina normal de todos os meses: as férias, as prendas de Natal, os seguros, e outros gastos imprevistos, como um arranjo do carro ou uma consulta médica.
Lembro-me, com muitas saudades, essas que tenho do meu pai, do dossier dos gastos, metodicamente organizado.
Mas esta não é uma crónica de saudades. Assim como anoto tudo aquilo que como quando se quero controlar o peso, senti necessidade de recuperar o caderninho que a minha mãe me ensinou a ter, onde sou obrigada a registar cada cêntimo que gasto.
Não interessa que seja “apenas” um pão, tudo deverá ficar escrito: dia, montante e descrição. No final de cada mês soma-se o total e agrupam-se os principais gastos: comida, contas obrigatórias, roupa, diversão.
Eu mantenho o formato papel porque gosto de escrever notas, fazer subtotais e criar alertas a vermelho – atenção, porque ultrapassaste determinado valor em determinada categoria -, mas já existem aplicações para o computador e telemóvel, que fazem exatamente o mesmo (já experimentei o Boonzi e gostei).
Este exercício, apesar de, nos primeiros dias, parecer chato e castrador, vale cada segundo, porque temos consciência real e pormenorizada daquilo que gastamos, aprendemos e corrigimos. É assim uma psicanálise financeira.

3 comentários em “[o caderninho dos gastos]”

  1. à dias num telejornal falavam de um caderno de apontamentos de hábito de países asiáticos, não me lembro do nome do caderno mas começava por "K" e se vende em livrarias, a peça tinha o exemplo de um utilizador que com o hábito de anotar tudo o que gasta passou a poupar cento e picos euros por mês, eu não sou de anotar, mas o meu banco faz essa estatística com a qual não concordo, sinto-me a ser controlada, mas enfim, tb cresci com a minha mãe a anotar gastos, mas penso que nessa altura valia a pena poupar, os ordenados por mais baixos que fossem se bem geridos e com sacrifício conseguia-se poupar, os preços eram mais equivalentes com aquilo que se ganhava, agora se comer só pão e água o que se poupa não dá para nada, falo por mim claro, por isso confesso que sou uma gastadora do momentos, se me apetece aquela blusa de 5€ ou aquele chocolate de 2€ porque não?

  2. Ola Catarina.
    Instalei o boonzi no telemóvel para experimentar e quiçá começar a poupar um bocadinho. No entanto assim que abri pediu-me um número qualquer e eu acabei por desistir.
    Conhece mais alguma aplicação com o mesmo objectivo? ou alguma que aconselhe?

    Beijinhos
    **

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