Bebi o meu primeiro copo de coca-cola quando tinha 11 anos. Fiquei a dormir em casa de uma amiga e não resisti perante o desconhecido. Nunca vira tal coisa em minha casa, nem nunca me atrevera a pedir aquela bebida num restaurante ou supermercado, a resposta seria aquele olhar próprio das pessoas de esquerda perante uma heresia capitalista.
Na verdade, a coca-cola não era o único alimento proibido. Lá em casa não havia bolachas ou donuts, nem esse tipo de guloseimas com nomes ”americanados” que só podiam ter sido inventadas por mentes focadas em lucro.
Poderão pensar que foi difícil mas, tendo em conta que tínhamos televisão, e que pão, queijo, leite e comida caseira, saborosa e compatível com valores de esquerda nunca me faltou, a minha infância foi a melhor do mundo. A minha mãe, sabendo que ia escrever sobre estas questões, obrigou-me a reforçar que nunca passei fome devido aos seus ideais. Aliás, garantiram-me o peso ideal e uma poupança significativa.
O problema pôs-se quando comecei a receber semanada. Numa fácil comparação com países sujeitos a embargos e restrições de consumo, assim que me vi com liberdade para comprar o que quisesse, gastei o meu orçamento para lanches em todo o tipo de alimentos que nunca tinham entrado em minha casa.
Poderão pensar que a minha adolescência foi livre e feliz para as minhas pupilas gustativas, e foi, mas foi um desastre para o meu peso ideal e para as minhas poupanças.
Agora, em minha casa há sempre alguns doces e, quando vamos comer a algum lado, pedimos um refrigerante. Confesso que a maioria das guloseimas e outros alimentos que os meus pais, com toda a razão, afastaram do meu menu durante tanto anos, são devorados às escondidas enquanto descasco maçãs.
Ainda ando à procura do equilíbrio entre as vantagens da ditadura saudável a que os valores de esquerda dos meus pais me sujeitaram e a necessidade de sermos livres para não desejarmos exatamente o que não está no menu.
* a [muito doce] esquerda lá de casa. e a desgraça ao 9º dia de férias: tapas no passeio ao “estrangeiro”.
Tão bom.
partilho grande parte dessa experiência, não tanto por valores de esquerda, embora também partilhe essa vivência, mas por escolhas de uma alimentação saudável. Tb eu ainda me encontro dividida e à procura do equilibrio. Ás vezes acho que encontrei 🙂
Minha experiência foi contrária, super permissiva, comia muita besteira e não tinha grande apetite para comida de verdade.
Com meus filhos tento aquilo o que eu considero um equilíbrio.
Comem algumas guloseimas,mas comem muita comida, muita fruta.
Tento não dramatizar, uma vez por semana minha filha pede uma Coca-Cola,e eu cedo, mas a verdade é que não chega a beber metade da lata. Não fica ansiosa, sabe que pode de vez em quando.
Quando pede gomas eu digo que dou duas, negociamos e ganha três… fim do mundo? Acho que não faz tanto mal, e como ela sabe que pode não tem aquele desespero de comer um pacote inteiro. Três já lhe chegam.
Gelados idem.
Nada é proibido,a quantidade é que é controlada.Mas tem é obrigação de comer uma fruta, um bom prato de comida, tomar o leite.
Acho que saber que ¨se pode¨ retira metade da vontade.