[lamentos sérios]

Venho por este meio solicitar que esta crónica tenha outro nome qualquer. Tirem a palavra “desempregada”. Não posso carregar este lamento. 
É verdade que aos 35 anos voltei a depender financeiramente da minha mãe, é verdade que não tenho emprego certo, que passo recibos verdes pelos trabalhos eventuais que surgem e que pago todos os meses à Segurança Social, mesmo que não ganhe nada.
É verdade que faço uma enorme ginástica orçamental para que esta coisa de viver com menos seja apenas isso: “menos”. Mas o meu desemprego é isso. E ontem senti, o meu desemprego é apenas isso.
Conheço a Filipa há alguns meses, somos amigas, na verdade torná-mo-nos amigas sem nunca nos termos conhecido pessoalmente, são as coisas boas do mundo virtual. Converso com a Filipa todos os dias e não fazia a menor ideia que a Filipa não tem uma casa. Percebi isso quando li a fabulosa reportagem da jornalista Sónia Morais Santos na Notícias Magazine.
São demasiadas histórias, e são histórias demasiado duras. Mas eu conheço a Filipa e isso torna tudo mais real, mais difícil. Ontem tive vontade de lhe pedir desculpa porque os meus problemas não são nada a comparar com os dela. Nem com os de grande parte da população desde país, em que apenas 1% dos depositantes têm mais de 100 mil euros no banco. Porque grande parte das pessoas deste país nem poupanças têm. Eu sei.
Gostava de ajudar a Filipa a ter uma casa (eles têm uma ideia, conheçam o evento no Facebook). A Filipa não se lamenta, nem sequer fala nisso. Fala sobre os seus dias, os seus bebés, sobre as primeiras gracinhas, sobre as novas conquistas e as noites sem dormir. Não é a Filipa que não tem casa. E ontem pensei que não posso ser Catarina, a desempregada. Não é justo. Podia ter a leveza com que o imaginei mas, nestes dias demasiado feios, não existe leveza possível nesta palavra.

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