eu sou uma mulher de datas. guardo as mais importantes e, infelizmente, guardo cada vez menos porque o cansaço me tem comido a memória. sei de cor cada minuto vivido pelos meus pais há 39 anos. era uma das minhas histórias preferidas. e envolvia o Cenourinha, forma amorosa como chamávamos ao primeiro sofá dos meus pais, barbaramente assassinado por um estofador que trocou o tecido dos anos 70 por um padrão florido e assustador. pior foi quando eu, já desconfiada, desventrei o braço do sofá e vim a descobrir que nem o interior era o do nosso Cenourinha. há 34 anos comecei a andar, exactamente na sala do nosso sofá preferido. há 11 anos soube que ia ser mãe numa viagem a caminho de Marrocos. guardo todas as datas. guardo, pelo menos, as datas das revoluções.
