Bruxelas [1] *

Ainda hoje respiro fundo para responder quando me perguntam:
– És jornalista?
Falta-me o ar. Sorrio com a timidez de quem terá eternamente um misto de orgulho e medo.
– Sim.
Lembro-me do médico.
– Es periodista?
E eu adormeci a sorrir enquanto me arrancavam os últimos sonhos de menina.
Entro em cada avião com o sufoco da saudade da pele do meu filho e a adernalina de quem encontrou o caminho. Antes de embarcar enviou uma última mensagem:
– Ele está feliz?
Sei que sim. Está sempre. Com o sorriso muito grande naqueles olhos brilhantes. E os caracóis desalinhados pelos saltos contantes das hormonas de menino. Ou está a assobiar ou a cantar uma música. Estará a representar um teatro ou a jogar computador.
Sempre feliz.
E nos cartões rabiscados de dia-da-mãe, natais e aniversários escreve:
– A mãe é jornalista.
Repete a cidades para onde vou com o orgulho que me faz feliz a mim.
Eu repito a minha vida muito baixinho para ter a certeza que não estou a sonhar.

* acabei de comer os amendoins mais caros da minha vida enquanto vejo a RTP internacional. falta-me o sono em quartos de hotel.

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