… em Paris

Não fosse o facto de ter visto as luzes da Torre Eiffel quando abri a janela do quarto – porque eu tenho sempre calor e o ar condicionado faz-me um mal terrível e para microclima já me chega as Maldivas lá na redacção – e não teria percebido que estive em Paris. Também podia ter percebido pelo gosto dos croissants comidos à pressa às cinco da manhã no átrio do hotel em que o número de estrelas correspondia à qualidade das almofadas em que consegui ter três horas de sonhos estranhos, que afinal eram o título dos caracteres que escreveria mais tarde enquanto sonhava que quando for grande vou ter um Koleos. Estranhos os sonhos que minha fada madrinha [eu quero acreditar que todas temos direito a uma, mesmo que não lhe possa chamar madrinha porque não baptizada] escolhe para tornar realidade. Mas também foi à minha fada madrinha que pedi para o meu avião não atrasar, muito menos ficar em terra, e ela foi muito querida e só me deu uma hora de trânsito na ponte com um taxista que me deixou ouvir as notícias e a quem só ouvi a voz quando ligou à mulher para saber o que era o jantar. E o telefonema daquela que me edita os erros ortográficos com muita atenção e carinho afinal não era um urgente dos verdadeiros e amanhã lá estou porque afinal eu morro de saudades do Largo do Carmo e a luz do Chiado não usa kwh. Eu [quase] não percebi que fui a Paris e o meu filho também não. Recebeu-me com um abraço muito doce seguido de três quase quedas por pulos excessivamente violentos mais cinco nódoas de gordura e vários brinquedos pisados porque gerir tanta testerona não deve ser fácil. E adormeceu com os caracóis ainda húmidos encostados ao meu nariz agarrado ao meu braço como se fosse uma almofada de hotel de cinco estrelas em Paris. Eu ainda não adormeci. Não posso dormir antes de conversar com a minha fada madrinha para estabelecermos alguns critérios na concretização dos meus sonhos.

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