o google não é um grande repórter

“o google não é um grande repórter.”

Li esta manhã que querem fazer dois jornais com um terço dos trabalhadores. Teria graça se fosse uma brincadeira. Mas é verdade, tremendamente assustador e errado.

Nunca fui tão feliz profissionalmente como quando trabalhava numa redacção. Já tinha tido vários empregos quando, já mãe de um filho pequenino e uma hipoteca para pagar, aceitei ser estagiária. Escrevia o que me mandassem e vibrava com tudo o que acontecia à minha volta. Independentemente dos dias em que me sentia a melhor e outros em que acreditava que não valia coisa nenhuma, chegava a casa mais rica do que tinha saído.

Na Rua Oliveira ao Carmo ouvia-se o bater das teclas permanente e apressado misturado com o som das vozes ao telefone. Às vezes os ânimos exaltavam-se e o volume do som aumentava. Nunca era insuportável, era sempre uma adrenalina sem comparação possível.

O jornal fazia-se de alguns estagiários – como eu, e de jornalistas séniores. Lamento, caros investidores – nem serei eu a primeira a dar-vos esta informação, mas não há motores de busca, nem arquivos, nem nenhuma aplicação, ou boa vontade e entusiasmo de um estagiário muito trabalhador, que se comparem a um grande repórter. Conheci alguns com quem aprendi muito, sabiam de cor os nomes e as datas relevantes, eram respeitados pelas fontes com quem conversavam todas as semanas, faziam as perguntas certas, sabiam responder às perguntas (mesmo as erradas). Eram desses jornalistas, experientes, que o jornal se fazia Foi com estes grandes repórteres que aprendi o que era uma “boa história”. E era com eles que nós, que sabíamos menos, íamos fazendo por aquele jornal, todos os dias.

A imprensa, e aquilo que significa para a informação e para a democracia, é uma necessidade. Sei que qualquer projecto tem que ser economicamente viável mas também sei que não se fazem jornais low-cost. E que pegar num jornal e querer que seja impresso com um terço dos trabalhadores é assustador e errado.

 

 

Crónica Dinheiro Vivo

1 comentário em ““o google não é um grande repórter.””

  1. Texto maravilhoso. Absurdo é colocarem em aberto essa hipótese. História e vida , faz-se com pessoas, de pessoas, para pessoas, e não máquinas.
    As melhoras !
    Carolina Melo

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