Hoje não vos escrevo sobre sobre os heróis que aguentam este canário estranho. Não vos falo sobre as regras e a responsabilidade. Hoje é mesmo na primeira pessoa. São dias estranhos. É regresso deste espaço como um diário. Hoje fala-vos das duras noites.
Não sei quantas vezes acordei esta noite. Aliás, não sei quantas vezes acordo em cada noite. Sempre foi assim. Pior agora.
Há momentos em que acordo e acho que não respiro. Quis o universo que fosse germofóbica mas não hipocondríaca. Felizmente! Ponho a mão no peito e na barriga, inspiro e expiro, e volto a adormecer.
Deve ter sido para me preparar para estes tempos estranhos que andei a aprender meditação nos últimos anos.
Não sei se agradeça o dinheiro e tempo que investi em todas estas aprendizagens e terapias, se peça um indemnização ao vírus por estar a estragar todos os resultados conseguidos.
Tenho a imagem da Maria Luiza deitada no chão de um aeroporto qualquer. Guardo as memórias das nossas viagens, daquelas que aprendi a fazer sem morrer de medo de todos os germes que consigo ver. Consigo sentir o frio e a chuva daquela caminhada do comboio até ao apartamento em que passámos uma semana maravilhosa antes do Natal. Existia um tapete e eu consegui viver com isso sem o desinfectar.
Não sei quantas vezes acordei esta noite mas acho sempre que é só um sonho estranho. Depois aceito que que é real. Depois respiro até conseguir viver nestes dias estranhos.
São duras noites mas dias calmos. Como dizia uma amiga, já me enerva quando dizem que vai ficar tudo bem. Mas vai mesmo.
E se quiserem desanuviar do bicho ouçam o podcast. Todos os episódios foram gravados antes destes dias estranhos e só falamos de relações e amor. Em tempo de paz e guerra. As aprendizagens servem sempre.
É como diz a minha filha de 8 anos, porque é que está escrito em todo o lado que vai ficar tudo bem? Assim lembro-me mais do covid…
E as noites, cada vez mais difíceis, temos mesmo de nos valer das técnicas e terapias e partilhar ao mundo tudo o que nos ajude, para ajudarnos os outros. Obrigada Catarina.
Um beijinho