Férias são sinónimo de tempo. E mais tempo com os nossos filhos adolescentes. Isso pode ser maravilhoso ou uma enorme dor de cabeça.
As hormonas são lixadas (e não falo das nossas, falo das deles). Conhecemos o cenário, já lá estivemos. Agora somos pais de adolescentes. Em adolescentes, o tal efeito “ninguém me percebe, ainda bem que tenho os meus amigos, todos adolescentes como eu”. Enquanto pais, o reverso transformador: de melhores amigos, passamos a adversários em plena guerra espartana, no desespero de conseguir vencer o nosso inimigo baixando as armas. Se é sempre assim? Não, que nisto de psicologia se há coisa que não existe são padrões. Há quem veja a adolescência a passar lá longe, sem grande ameaça. Invejem esses!
Ao longo do tempo fui-me apercebendo que só paciência e calma não chegam nisto dos filhos adolescentes. Há aquela “coisa” extremamente importante: que os ajuda, que nos facilita, que torna tudo “fazível”. Conexão, pois que a técnica de os deixar ficar no seu canto a resolverem-se sozinhos, pode não ser a melhor hipótese. Temos que passar para o lado deles, por muito alto que seja o muro que eles queiram construir. Conectar em vez de corrigir pode parecer à partida uma metodologia tola. Porém, à medida que nos orientamos com eles para o mesmo norte, o caminho a dois torna-se bem mais fácil.
- CONHECE-LOS
Estamos com eles todos os dias. Mas será que sabemos quem são? Ouvir. É essencial saber ouvir, tal como fazemos com os nossos amigos. E deixá-los falar, sem interromper, sem atingir gratuitamente porque a paciência ao final escasseia. Fazer perguntas. Eles querem sentir o nosso interesse. É óbvio que os segredos não vão chegar até nós, nem têm que chegar. A privacidade será sempre deles. Apenas temos que nos tornar um lugar seguro e confortável. E assim sabemos que eles vão sempre contar connosco.
- ACEITÁ-LOS
Com isto não digo que devemos aceitar todas as decisões e comportamentos! Não! O que quero dizer é que é importante que eles sintam que são especiais, com características únicas, que realmente acrescentam algo no mundo pelo valor que têm. Não tem que ver com notas na escola, ou com a maneira como fazem a cama. São os valores, as capacidades, as facetas especiais que nós vemos que eles têm.
A aceitação mostra-lhes que, por muitos erros que cometam, por muitas decisões erradas, terão sempre aconchego ao nosso lado. Se eles sabem que tomam decisões que nós não vamos gostar? Claro. Eles só precisam de saber que, mesmo assim, não falharam para connosco.
- PRATICAR EMPATIA
Sentirem que são compreendidos por nós. Isto da empatia pode não ser fácil, mas com dedicação chega-se lá sem grande stress. O exercício é tentar imaginar como eles se sentem. Transportarmo-nos. Ajuda lembrarmo-nos da nossa adolescência, de como reagíamos a certas situações. Se eles sentirem que estamos com eles no barco, acalma-lhes a dor. Frases como “é normal estares a sentir isso” pode ser uma lufada de ar fresco.
- FAZÊ-LOS PERTENCER AO GRUPO FAMÍLIA
Tornar a nossa família o grupo deles. Como na escola, quando surgem os grupinhos. Um grupo onde eles podem ser quem são, um grupo que não é o mesmo sem eles, onde eles encontram a sua identidade. Fazer em família o que eles gostam de fazer com os amigos: surfar, ir ao cinema, passear à noite, ouvir música, ir a um festival.
- MANTER A SANIDADE E FIRMEZA
Quaisquer que sejam as atitudes destravadas que os filhos adolescentes tenham, quaisquer acusações e reclamações que nos apontem, a nossa sanidade terá que ser mais teimosa e falar mais alto. Deixem-nos acalmarem-se e depois sim, fale-se. Ou então deixa-los só acalmar, sem voltar ao assunto. Um abraço às vezes também pode resultar (quem nunca precisou?). A firmeza – e nisto quero dizer que não devemos entrar na onda das gritarias e acusações – fá-los-á admirar-nos. Automaticamente, fá-los querer estar perto. É extremamente difícil, às vezes. Mas enquanto pais acho que conseguimos perceber quando a birra vem de lado nenhum. (Já disse que as hormonas são lixadas?)
À medida que eles vão baixando as armas e se libertam da luta pelo direito de ser quem são, a vida torna-se um lugar saudável com eles sempre por perto. Quando damos por nós, já eles respondem às oportunidades da melhor forma, mesmo sem instrução prévia. É aqui pensamos de nós mesmos: good job. O que em férias sabem ainda melhor.
Parabéns pelo artigo! Excelente! A grande questão dos adolescentes, as alteraçõeshormonais, que eles próprios não sabem lidar, nem controlar! A nós pais de adolescentes, cabe-nos compreender. E, nesta fase a habilidade de nos colocarmos no lugar do outro, é fulcral. Obrigada pelo artigo. Mãe de adolescentes❤️
Na Adolescência o diálogo é essencial!!!
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