suficiente

à noite, quando me deito na cama e faço contas ao meu dia, percebo que na maior parte do meu tempo sou mãe. é um facto: entre o tempo que ajudo um a sair de casa, o tempo em que arranjo e levo o outro, as compras, as refeições, as marmitas, a roupa e a casa por arrumar, os banhos, os trabalhos de casa, a história antes de dormir e as rotinas de deitar. trabalhar em casa faz com que tudo se confunda: escrevo um texto e vou arrumar, escrevo outro texto e adianto o jantar, estou a pesquisar um assunto e ouço a máquina que acabou de lavar. ter tempo é muito bom. ter tempo para os meus filhos é compensador e tranquilizante. e faz-me muito feliz. mas [aquelas três letras que detesto] há dias em que me questiono se será suficiente, se serei suficiente, se terei valor para além desta missão de estar presente e constante na vida dos meus filhos. há exactamente um ano [Janeiro é sempre um mês lixado] procurei um emprego a tempo parcial que me ajudasse nas contas. foi muito desafiante, aprendi imenso, senti-me útil e valorizada. mas [lá vem o “mas”] ressenti-me muito em termos de disponibilidade porque, para além do emprego mantive todos os trabalhos que faço em casa. uns meses depois o G. disse-me que sentia a minha falta. e eu, incapaz de dar conta de tudo, aproveitei a palavras dele para ter coragem para tomar a decisão que adiava. Janeiro voltou e os medos e as angústias voltaram também. ontem, entre a roupa que pus a lavar, a roupa que estendi, os textos que terminei, o almoço e o jantar, as compras do que faltava, a fruta que descasquei e os  e os vários pães que barrei com manteiga debati-me entre a sensação que estou completa e feliz e este vazio que talvez não seja suficiente.

12 comentários em “suficiente”

  1. Debato-me precisamente com esta questão. Estou há um ano em casa. Tenho uma filha de 3 e um bebé de 7 meses. Esta semana tenho de decidir se consigo ou não trabalhar em casa. Isto das tarefas é tramado. Elas não se vão embora porque eu saio de casa de manhã e volto à noite… Mas não ter tempo de os ver crescer… De estar a 2 min da escola e poder acompanhar o doce dos dias… Pensava que isto ficava melhor quando eles cresciam… Pois, parece que não… Obrigada Catarina

  2. belíssima questão…
    o que eu tenho a certeza é que eu não conseguia ser só mãe, não conseguia só tratar da casa e da roupa e das compras e da família, não sendo este só uma desvalorização destes trabalhos incríveis. o só vem porque realmente para mim é preciso mais, preciso de mim e das minhas coisas, do meu trabalho ou hobbys ou o que lhe quiserem chamar. não consigo ser só a mãe, preciso da filha, da mulher e da amiga e de todas as outras eu.
    e tenho outra grande certeza, para não usar aqui o mas: gostava muito de trabalhar menos horas, num equilíbrio muito mais saudável de todos os meus eus.

  3. Vai haver sempre esse desequilíbrio, quer estejas mais em casa e menos descansada “financeiramente” ou com um part-time e portanto menos disponível para os míudos… cabe-te a ti perceber com qual dos lados viverás melhor (ou menos mal).

  4. Eu fui mãe há um ano atrás, e por mais que isso me realize e me tenha mostrado “um amor maior”, sinto que não seria capaz de ser mãe a tempo inteiro. Ou melhor, capaz seria (somos sempre), MAS (lá está “ele”…) isso não me faria uma Mulher/Pessoa/Mãe mais feliz. Pelo contrário. E tenho pena que assim seja, juro que sim (leia-se em Bold). Queria ser uma mulher que não sou. A que se sente preenchida e realizada, apenas e só, porque cuida da cria, a que não sente falta do seu tempo, do seu espaço, do seu “eu” que ficou um pouco perdido, mudou, luta para se encontrar, neste novo papel. Aprecio essas mulheres.
    Queria, mas não sou. E agora?! Agora, adapto-me um pouco mais todos os dias. Aceito-me um pouco melhor todos os dias. Com esforço, admito, pois o sentimento de culpa não me abandona (esse padrasto). Ainda não me deixa usufruir de uns miseros 30′ de exercício físico sem que sinta estar a roubar tempo e atenção à cria. Ainda não me permite ir ao cinema ou jantar com o meu marido e gozar o momento como antigamente, aquele “antigamente” que, invariavelmente, fica para trás depois de 1+1=3. Ainda não me permite usufruir de uma noite (uma só…. “umazinha”) fora com o meu marido, longe do lamber da cria (que ninguém lambe como eu).
    Ainda…
    Cheila

  5. É sempre uma questão que nos faz pensar. Os filhos vão crescendo, e se não estamos lá não podemos rebobinar a cassete para ver como foi. Por outro lado, para lhes poder dar às vezes mais um pouco de algo material, temos de fazer esses sacrifícios. É sempre uma questão complicada.

    O Pai,
    http://www.soupai.pt

  6. Olá Catarina
    Sinto a mesma coisa que tu descreves, apesar de trabalhar fora de casa. E mesmo assim, tendo em consideração as condições do país, sinto-me privilegiada por trabalhar apenas 7 horas por dia, morar perto do trabalho e da escola.
    Ando sempre numa correia para conseguir trabalhar, dar conta da casa e respetivas atividades domésticas e estar presente com a minha filha de 7 anos. É um desafio.
    As responsabilidades das mães aumentaram com o acesso ao trabalho remunerado (fora ou dentro de casa), mas continuam a ser as mesmas responsabilidades dentro de casa. Aqui é que eu acho que reside o desequilíbrio. E esta situação torna-se quase insuportável quando há filhos pequenos que precisam da nossa atenção.
    Acho que nos falta o efeito de manada, que a Laura Gutman fala!
    Beijinhos

  7. Não sou mãe mas consigo perceber este sentimento q penso que muitas mulheres partilham: já sou mãe, amiga, mulher/namorada, estudante, filha, irmã, prima, trabalhadora, etc, etc…mas será que em todos os papéis da minha vida, eu estou satisfeita com o papel mais importante que é ser eu própria?
    Cada vez mais sei que esse é o grande desafio da vida: encontrar o equilíbrio em tudo o que somos e tudo o que queremos ser. Não é fácil chegar a esse objectivo mas também o que importa é a viagem 😉

    http://epalogoseve.blogs.sapo.pt

  8. Tenho 46 anos sou dona de casa mas não por opção, estou desempregada. Estou saturada, desanimada, vou 2 vezes por semana olhar pelos meus pais e faço o mesmo ou pior, lavo roupa passo, lavo e cuido da minha mãe !!! Esgotei ninguém da valor, dizem sempre que não faço nada, neste momento estou no sofá e tenho tudo por fazer, mas….. Não quero não me apetece, quero dormir, dormir um sono longo e não acordar mais, mas aí penso e a minha filha ela precisa de mim, e eu como fico… Não existe eu…… Sou uma morta viva…..

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