Amantes (parte II) ou Os amantes e o fim-de-semana.

Existe um dia particularmente difícil na vida dos amantes: a sexta-feira.
Para alguns mais problemática a angústia começa algures durante a quinta-feira.
Outros há (uma pequena percentagem) que vivem toda a semana a sofrer antecipadamente a chegada desses dias.
Assim como há palavras que não são permitidas. Há dias que não lhes pertencem.
A semana dos amantes tem cinco dias.
Ao ano dos amantes retiramos ainda 22 dias úteis de férias (agora aumentou mas ainda não me actualizei) e os feriados religiosos como o Natal, Páscoa e afins.
Resumindo, a vida dos amantes é idêntica à jornada de trabalho.
Pondero a hipótese de solicitar à CGTP que defenda os seus direitos.
Afinal é também uma forma de contracção colectiva. Assombrada pelo medo do despedimento sem justa causa.
Ser amante é um emprego (de que se gosta).
No qual se luta com a dificuldade de não levar problemas do trabalho para casa.
Para os amantes a sexta-feira inícia dois dias de profundo sofrimento. Dois dias de uma infinita distância.
Há dias que não pertencem aos amantes.
Esses dias em que a vida retoma uma normalidade dolorosa.
Esses dias em que a personagem que despiram no dia em que se conheceram retoma o seu papel no palco da vida.
Á sexta-feira, quando o sol de põe, os amantes choram.
Choram medos e insegurança.
Medo de se perderem.
Medo dos maridos e mulheres que se tornam “os outros”, numa dolorosa inversão dos papeís.
Medo do fim.
O fim dos amantes é tão inevitável como a chegada do anoitecer de sexta-feira.
Alguns assumem-se. Deixam de o ser.
Outros abandonam-se. Deixam de ser amantes.
Há palavras que não são permitidas aos amantes: “Para sempre” é uma delas.

3 comentários em “Amantes (parte II) ou Os amantes e o fim-de-semana.”

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