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Universidade e Casa dos Segredos

Juntaram-se no mesmo dia, com alguma ironia, a divulgação dos resultados da entrada para o Ensino Superior e a entrada dos concorrentes para uma nova edição, a sexta, do reality show “Casa dos Segredos”. Aquilo que é comum nos dois acontecimentos: a idade média dos concorrentes. Aquilo que os separa: a forma como os dois lados perspetivam o futuro.

Convenhamos que o mais assustador serão aqueles que, sendo licenciados, concorrem a um reality show. Que esperança já terão esgotado?

Não estou aqui para criticar a opção dos segundos, que escolhem a Casa dos Segredos [aliás, eu às vezes vejo e já o disse], nem para falar do realismo dos sonhos e planos dos primeiros. Venho apenas defender que os anos de escolaridade obrigatória deviam ser seguidos de um ano de paragem. Sim, uma paragem obrigatória. E se é para sonhar então que este “ano para pensar na vida” seja financiado.

Não defendo 12 meses pagos para fazer coisa nenhuma (isso podia ficar para outro momento da vida em que uma pessoa precisasse mesmo, mas depois de muitos anos de trabalho). Sei que, em alguns países, mas principalmente em alguns grupos economicamente privilegiados, esta realidade já existe. Aquilo que gostaria era de democratizá-la.

A minha ideia seria que, aos 18 anos, ou depois de completar o 12º ano, cada jovem fosse a uma entrevista. No ano seguinte concretizaria um projeto que não implicasse estudar para aqueles que quisessem ir para a universidade ou trabalhar para os que não quisessem continuar na escola. Uma viagem, um projeto de voluntariado, um conjunto de livros para ler, museus para visitar, um trabalho que nunca tivessem imaginado fazer.

Abrir horizontes, conhecer outras realidades, reconhecer dificuldades e fazer escolhas conscientes. Isto deveria ser obrigatório. Para que a vida não fosse apenas o caminho fácil (e sabemos lá se as vidas destas pessoas foram sempre fáceis) e o caminho difícil (sem qualquer garantia de que aqueles que entram no Ensino Superior tenham noção do privilégio que vivem).

 

Crónica Dinheiro Vivo

4 comentários em “Universidade e Casa dos Segredos”

  1. Concordo completamente. E acho que, muitos jovens só teriam a ganhar se fossem para a universidade já depois de terem trabalhado e depois de uma grande viagem para conhecerem outras realidades e outras culturas. Isso seria o ideal (de uma perspectiva muito pessoal).
    Eu entrei na universidade com 17 anos, uma miúda que fez imensas escolhas erradas e não sabia o que queria. Na verdade, nem hoje, mãe de 2 filhas, sei bem o que quero profissionalmente. Adoro o meu trabalho, gosto de escrever e consigo encontrar muita realização pessoal no que faço mas… amanhã não sei se será assim. Gosto de mudanças e de desafios.
    Com 17 anos fui pelo caminho mais fácil sem questionar. Entrei na universidade, fiz a licenciatura – das antigas – nos 5 anos estipulados e depois passei quase 10 anos a trabalhar em lojas e call center, até conseguir, finalmente, um trabalho na minha área.
    Se tivesse começado a estudar mais tarde ou não imediatamente ao 12º ano talvez tivesse sido tudo diferente. Ou talvez não. Mas, sem dúvida que teria ganho muito em experiência de vida se em vez de ter ido para a universidade aos 17, fosse aos 20 e tivesse viajado e trabalhado num local longe de casa.
    http://www.vinilepurpurina.com

  2. Uma excelente ideia. Foi o que aconteceu comigo. Não propriamente por opção, mais porque precisava de “angariar” verba para financiar os meus estudos. E então estive um ano a trabalhar – o qual aproveitei para melhorar notas – e a conhecer outras realidades.
    Para muitos jovens a verdade é que só se deparam com “responsabilidades” quando entram no mercado de trabalho. Outros vão estudar “porque sim”, porque os pais gostavam que o fizessem, porque “é o passo seguinte”. Seria interessante que se tornesse “normal” pensar antes de escolher uma coisa que à partida, pressupõe decidir o que queremos fazer para a vida.

    http://embuscadafelicidade.blogs.sapo.pt/

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