saudades [e bom dia, outra vez]

saudades [e bom dia, outra vez]

saudades [tantas saudades].

 

o cheiro das pessoas de manhã, o cheiro a perfume fresco na pele, lembra-me o meu pai. consigo ser menina e estar a dormir no meu quarto onde só via o Tejo. acordava sempre no momento em que o meu pai borrifava as mãos com creme perfumado e espalhava na barba, muito devagar, num ritual minucioso, depois de pentear a barba com o pente verde claro comprado na Guiné. sabia que, se me mantivesse com os olhos fechados, ele vinha ao quarto. eu gostava de sentir o cheiro cada vez mais perto. gostava, mesmo com os olhos fechados, de saber o exacto momento em que me destaparia um pé e sussurraria:

– Anita….

3 comentários em “saudades [e bom dia, outra vez]”

  1. Voltar a essas memórias é encontrar o que faz sentido de sentir. Quem partiu, fica sempre, mas de outra maneira, às vezes com uma intensidade tal que as palavras não conseguem descrever. Ou então, cada palavra ganha um significado e uma emoção gigante e uma pequena frase tem uma vida toda dentro, às vezes uma palavra desvenda todo o sentido dos sentidos.
    Nas entrelinhas lê-se o entendimento, a sensibilidade e a saudade. Maduras palavras de quem sente à distância de muitos anos os momentos de felicidade. E são esses que temos de ir buscar, pois esses são alicerces da felicidade que construímos no presente. Ser feliz também tem dor dentro, dor transformada. Beijinhos Catarina.

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *